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quarta-feira, 9 de março de 2011

Pão, TV e circo!!


Não raras vezes os meios de comunicação, sobretudo os televisivos, elegem algum evento, geralmente de natureza violenta, a fim de garantir longos dias de cobertura e reportagens. Com o argumento (legítimo), de direito de livre expressão, procuram explorar ao máximo todos os pormenores de casos que, potencialmente, podem gerar alguma comoção popular. Foi assim com o caso Nardoni, e agora, mais recentemente, com a menina Lavínia. Não queremos, de forma alguma, advogar em favor de agressores ou desse tipo de violência, mas queremos demonstrar a perversidade que está por trás da megaexposição desses casos pela mídia. Esses casos são emblemáticos para perceber que há ainda hoje, em pleno século XXI, uma continuação da conhecida política romana do "pão e circo", cuja finalidade era entreter o povo, alienando-o de seus problemas e reais condições de vida. E é bem isso que observamos quando assistimos à divulgação de alguns fatos. Parte-se de uma prerrogativa/premissa verdadeira - a liberdade de imprensa e o direito à informação - para uma prática manipuladora da informação que, mais que isso, transforma-se em espetáculos nos moldes dos que se passavam no Coliseu romano, onde os homens degladiavam-se até a morte, e com feras, enquanto outros eram queimados para servir de luminária aos espetáculos noturnos, assistidos euforicamente pela multidão. De maneira análoga a mídia tem destacado casos que caracterizam-se pela atrocidade, pela violência e, curiosamente, produzem o mesmo fascínio sobre a multidão de espectadores (ou telespectadores). O mundo real tem-se reduzido ao imagético fantástico, de modo que muitos expressam certa indignação e um senso de justiça meramente pontuais. No entanto, essa pseudo indignação e esse senso de justiça são artifícios que fazem com que o povo não perceba as situações de injustiça em que ele mesmo está inserido.
A perversidade de tudo consiste no fato de que esse espetáculo midiático é construído pelos grandes meios de comunicação, que são nada mais que grandes grupos empresariais, e portanto, com interesses de classe. Sim; interesses de classe. A classe dominante/dirigente da sociedade brasileira - e também de outras - apropria-se de eventos catastróficos, violentos, atrozes, que ocorrem, geralmente, nas classes média e pobre. Isso significa que a multidão de espectadores é exposta à sua própria desgraça como um espetáculo, que, paradoxalmente, a torna ignorante de suas reais condições de vida; assim  como alguns gladiadores eram tirados do meio do povo mesmo para divertí-lo. E como era o imperador quem decidia a vida ou a morte dos gladiadores, cabendo aos espectadores apenas assistir, hoje também a massa que se deleita com os espetáculos televisivos, satisfeitos com seu pão, sua tv e diversão, delegam as decisões aos poderosos, isentando-se de toda responsabilidade sobre o que acontece. Mas só há espetáculo para espectadores. Assim, enquanto todos se divertiam assistindo às lutas no Coliseu, os problemas do povo romano continuavam tais e quais. Essa "diversão" entorpecente é a mesma que encontramos naqueles que fixam-se nesses casos mais extremos de violência que se noticiam por semanas...muitos criam inúmeras hipóteses para os casos, mas são incapazes de compreender a sua realidade, uma vez que estão muito ocupados e entretidos com os espetáculos que vez em quando lhes apresentam.