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sábado, 23 de junho de 2012

Ecologia em Questão!!!


Nesta sexta-feira, 22/06/2012, encerrou-se a Conferência da ONU sobre o meio ambiente, as questões climáticas e o desenvolvimento sustentável, a Rio+20. O objetivo dessa Conferência era discutir, no âmbito planetário, o futuro que queremos. Essa discussão compreende uma série de questões ambientais, às vezes hegemônicas, às vezes controversas, que dizem respeito ao futuro do planeta e, sobretudo, ao futuro das espécies, da vida no planeta, uma vez que é sabido que o planeta resiste às mudanças climáticas, passa por períodos cíclicos de aquecimento e resfriamento, enfim... mas é sabido igualmente que algumas espécies não sobrevivem a essas alterações e são extintas. Nesse contexto, as alterações que o homem vem provocando no meio ambiente dão-se, segundo alguns geógrafos e climatologistas, em escala global, e segundo outros, em escala regional. Como não é nosso objetivo resolver ou adotar uma ou outra concepção, nos interessa realmente o que há de consensual nessas teses: as ações humanas colaboram na alteração do meio ambiente. E o paradoxo enfrentado pelas sociedades capitalistas contemporâneas, desde a realização da ECO92 e que ecoa – sem trocadilhos – na Rio+20, é a tese do desenvolvimento sustentável e da chamada economia verde. Num contexto de aguda crise econômica em que o modelo hegemônico capitalista/neoliberal está colapsando já era de se esperar que não houvesse avanços significativos na Conferência, de modo que as abordagens, petições, indagações, críticas, advertências, recomendações, apresentam as mesmas demandas de 20 anos atrás, e mesmo um agravamento dessas, dada a velocidade de produção e consumo nessas duas últimas décadas.
É quase consenso que é necessário repensar nossa relação com a natureza, saindo de um paradigma baconiano de dominação para um outro mais integrador e solidário. Nesse sentido nos valeremos de duas linhas filosóficas que auxiliariam, segundo entendemos, nessa leitura. Uma é a clássica filosofia pré-socrática, caracterizada grosso modo como filosofia da natureza. Nesta a questão fundamental é exatamente a natureza (physis), não como algo externo ao ser humano, algo a ser dominado, mas a preocupação com a physis se traduz numa procura, em reflexões sobre um princípio uno e unificante de tudo o que existe. Essa concepção é absolutamente integradora ao afirmar que tudo é composto do mesmo, ou seja, a natureza não está fora de mim, mas eu mesmo, meu corpo – que é físico - é constituído dela. A outra contribuição é a do filósofo e teólogo brasileiro Leonardo Boff, que já desde muito antes da “onda verde” vem refletindo sobre as questões ecológicas. Pelo menos duas de suas obras (Saber Cuidar – Ética do Humano – Compaixão pela Terra e Ecologia – Grito da Terra, Grito dos Pobres) versam sobre o tema da ecologia como cuidado com a Terra e com as pessoas da Terra. Nesse sentido de cuidado encontra-se a noção da Terra como casa comum, a única que temos, a qual dividimos, hoje entre 7 bilhões de moradores - e da qual precisamos cuidar ao mesmo tempo que de seus moradores–  o que desenrola-se, também, em uma ecologia social, o que exige, por sua vez uma consciência terrenal.
O termo consciência ambiental, bem como seus correlatos, ganham cada vez mais espaço, o que nos parece bastante positivo, no entanto, parece-nos, igualmente, que não há uma vinculação do(s) tema(s) ambiental(is) à uma consciência política e social.  Considerando a ecologia social de BOFF é necessário dizer que é, no mínimo, contraditória uma consciência ambiental que não considere, também, uma mudança radical do modelo de produção predatório, subentendido, capitalista. Assim, consciência ambiental exige, também, uma consciência política e social com perspectivas de mudança. Em síntese, reivindicar uma política ecológica exige uma reivindicação por políticas de mudanças sociais também.
Estamos sob a hegemonia do capital e isso significa que não há, mesmo num cenário crítico que perdura já há quatro anos, vontade de mudança de estruturas, de sistema, o que quer dizer também que a atual consciência ambiental é insuficiente. Os resultados da Rio+20 demonstram isso com certa clareza, uma vez que trouxeram poucas conclusões efetivamente impactantes, e por isso foram muito criticadas por movimentos sociais e ambientalistas (vejamos uma vez mais a separação entre o social e o ecológico) e mesmo pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, que depois, pressionado, mudou de opinião. Alguns sentir-se-ão decepcionados, mas esses resultados vagos e pouco efetivos  já nos pareciam demasiado previsíveis. E sabemos que o planeta (nossa casa comum) e a natureza (enquanto physis) podem esperar e que estejamos nós, os humanos, ou não eles vão continuar e encontrar meios de se restabelecerem, como demonstra o documentário “O mundo sem ninguém” do History Channel (disponível na internet). A pergunta que talvez devamos nos fazer é por quanto tempo mais as vidas ainda conseguirão esperar por mudanças que todos sabemos necessárias?
Para concluir, compartilhamos a reflexão de Mário Sérgio Cortella, em uma de suas participações em programas de TV, quando fala da necessidade de pensarmos em que passado queremos para nós, o que significa pensar em como o nosso futuro nos olhará: com gratidão ou decepcionado? Nós nos vamos... o mundo fica... que mundo vamos deixar quando formos?