De acordo com os mais diversos meios de
comunicação, das mais variadas tendências, no último mês a Ucrânia vem
enfrentando uma série de protestos populares. A razão desses seria a negativa
do governo ucraniano em assinar o acordo de adesão à União Europeia (UE). Essa
tese, porém, embora praticamente consensual, levanta uma série de questões que
julgamos, no mínimo, interessantes à reflexão. Um dos primeiros questionamentos
é exatamente sobre se o motivo real e fundamental dos manifestos seja a recusa
do governo em aderir à UE ou se há outra causa interna que desconhecemos todos.
Se, porém, o motivo central é mesmo a aproximação com a Rússia e o
distanciamento da UE surgem outras questões não menos interessantes. A suposta
estabilidade do bloco foi posta em xeque a partir da crise econômica que
eclodiu em 2008 e ainda permanece, derrubando economias antes consideradas
sólidas, provocando e agudizando problemas sociais nos países membros, mas mais
notadamente nos que compõem a zona do euro. Ao observarmos as situações de
países como Grécia e Espanha, que nesse contexto se tornam emblemáticos nos
deparamos com realidades amplamente complexas que resultaram em políticas
amplamente mercadológicas e antipopulares incapazes de conter o alto nível de
desemprego (que ultrapassa a taxa dos 20% na Espanha e chegando a 27% na
Grécia), a redução de gastos com serviços públicos para “honrar” compromissos
com grandes bancos e entidades financeiras. Há um caos social e político instalado e que
curiosamente parece ignorado pelos manifestantes ucranianos. Qual o motivo
dessa ignorância? E qual o motivo de defenderem tão avidamente a adesão de seu
país a um bloco tão fortemente afetado pela crise e que tem provocado o caos a
que já nos referimos? Estariam, contra todas as evidências, crendo que isso
lhes proporcionaria melhores condições de vida? Ou será o fetichismo de ampliar
suas possibilidades de consumo com o livre comércio na região, mesmo sabendo
que as economias menores são sempre prejudicadas pelo livre-mercado? Por
enquanto, as respostas parecem difíceis de encontrar.