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domingo, 29 de maio de 2011

“Os indignados” na Espanha: suas críticas e paradoxos!!!


Desde o último dia 15 de maio desencadeou-se na Espanha uma série de manifestações que estão sendo nomeadas, variavelmente, de “Spanish Revolution”, “M15”, “Democracia Real Já”, “Os indignados”.  A despeito do nome que se queira atribuir a este movimento social (não institucionalizado), o que realmente importa é o porquê de sua emergência. O contexto motivador tem origem com a crise econômica desencadeada em 2008 pelos EUA e que assolou todo o mundo. A essa crise houve diferentes respostas. Alguns países emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (os chamados BRICS), adotaram medidas heterodoxas às propostas pelos órgãos econômicos mundiais. Já outros países considerados desenvolvidos como Grécia, Portugal, Espanha, por exemplo, seguiram fidelissimamente a orientação neoliberal, que, em síntese, traduz-se por uma política de ajustes que implicam, sobretudo, na diminuição do Estado. Essa diminuição, na prática, significa corte de gastos sociais, privatização de serviços públicos. Isso é parte fundamental da atual fase do capitalismo, o neoliberalismo, segundo a qual o Estado não deve, apenas, garantir a propriedade individual, como pretendia o liberalismo clássico, mas aprofunda essa noção de modo que os serviços públicos, que garantiriam o bem-estar social, também se tornem propriedade privada, ou seja, privatizados; a tal ponto que Ronald Reagan, presidente dos EUA nos anos 80 do século passado, chegou a afirmar que não tinha problemas com o Estado, mas que “o Estado é o problema”. Dessa forma o que passa a ter importância primaz é o sistema financeiro que se torna referente para dizer se um Estado (país) é bom ou não para investir, sendo o bom investimento onde o Estado é mínimo. Assim que para responde à crise de 2008 e procurar novos investimentos externos, bem como o auxílio de órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), países como Portugal e Espanha se submeteram incondicionalmente, de sua parte, às orientações e condições de “ajuda” financeira, impostas pelo órgão. Surge, então, o impasse: ceder ao privatismo implica numa diminuição do bem público, na qualidade e quantidade dos serviços públicos. Como o Estado já era pequeno, por ser neoliberal, os ajustes propostos para superar a crise o diminuem ainda mais, o que acaba por provocar uma situação insustentável. E é exatamente aí que eclode o movimento espanhol. Há, agora, um conflito que evidencia que o sistema capitalista, hoje mais que nunca, vai na contramão dos interesses comuns, do bem público, uma vez que defende o bem privado (das grandes corporações) e transforma o bem público em mercadoria, num bem de consumo. Basicamente a partir da juventude, os cidadãos foram expressando seu descontentamento com os rumos do país, e esse descontentamento passa a ressoar à medida que muitos percebem-se também descontentes. Quando começam a tomar consciência de que seus direitos estão postos à mesa de negociação do mercado, que suas perspectivas de futuro são incertas, dão-se conta de que o que está errado é o modelo político e econômico que os fez chegar à situação em que se encontram, e que é necessário organizar-se para pedir por mudanças. Com a ajuda das redes sociais o movimento cresce exponencialmente e se torna uma verdadeira expressão de participação popular contra um modelo intrinsecamente mau e excludente de sociedade. Poderíamos nos perguntar por que um movimento tão intenso e significativo tem tão pouca cobertura midiática, ou uma cobertura truncada? Pareceria confuso entender se não evidenciarmos que os meios de comunicação de que dispomos hoje são, em sua grande maioria, e com maior visibilidade, aqueles vinculados às grande corporações, que defendem e mesmo promovem um projeto neoliberal de sociedade, do qual beneficiam-se. Uma vez que as manifestações espanholas têm como mote evidenciar a insuficiência e incompetência do capitalismo para melhorar as condições de vida digna e garantir equidade e justiça social, resulta óbvio que não se aprofundará a discussão. Assim que temos apenas flashes de notícias sobre o que lá ocorre, uma vez que os meios brasileiros de grande mídia também defendem interesses corporativos; assim que não seria surpresa se muitos brasileiros desconhecessem o que está se passando na Espanha. De tal modo, também, que a imprensa espanhola, por mais que os manifestantes enfatizem que o movimento surgira de maneira espontânea, esforçam-se por tentar apontar ligações entre o movimento e a extrema esquerda e mesmo ao grupo separatista ETA. Com isso querem desqualificar uma crítica popular à estrutura política e social que defendem explícita ou veladamente.

O que me soa curioso, no entanto, é que esse descontentamento do povo espanhol com o modelo, com o sistema não se refletiu concretamente nas urnas nas eleições locais, uma vez que a direita – conservadora, liberal e neoliberal – saiu vencedora. Creem alguns jornalistas e especialistas que isso serve de prognóstico para as eleições gerais e que a maioria dos deputados eleitos sejam direitistas, o que culminaria na eleição de um presidente de direita, uma vez que a Espanha é uma monarquia parlamentarista. O que faria crer à população que a direita romperia com o sistema? Isso parece ainda confuso entender. Outro aspecto que chama a atenção é que muitos jovens manifestantes defendem a tese de que são indivíduos reunidos para protestar. Parece-nos que enfatizar essa idéia de “indivíduo” esvazia, de certa forma, a idéia de cidadão, de um povo que se reúne coletivamente para reivindicar aquilo que é de interesse comum, e não por que diz respeito a um ou outro apenas individualmente. No mais, somamo-nos aos milhares de “indignados” da Espanha por mudanças e ecoamos suas críticas a um modelo ainda hegemônico e destrutivo, como é o atual capitalismo neoliberal, que vem sofrendo resistência de outros “indignados”, como os gregos. A gregos e espanhóis a nossa solidariedade!!!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os Estados Unidos e o terrorismo!!


Aproveitando o acontecimento recente da morte do terrorista Bin Laden (fato carregado de questionamentos), queremos fazer aqui uma reflexão sobre algo que poucos estão fazendo nesse momento. O alarde midiático e os festejos estadunidenses encobrem uma questão que deve ser discutida, uma vez que, novamente, os EUA gabam-se de ter tornado o mundo um lugar melhor e mais seguro. Isso contitui nada mais nada menos que uma falácia, um discurso impositivo travestido de democrático. As intervenções estadunidenses nas questões dos países são um verdadeiro atentado à autodeterminação dos povos, além de se caracterizarem por interesses nefastos. A chamada guerra ao terror, declarada por George Bush, antecessor de Obama, após o 11 de setembro de 2001, tinha como pretexto combater o terrorismo. Daí deram-se, a passos largos, a invasão do Afeganistão e depois do Iraque, sob uma falsa alegação da produção iraquiana de armas de destruição em massa. O massacre realizado pelos estadunidenses em terras afegãs e iraquianas tornam evidente a concepção política de que não se pode fazer uma omelete sem quebrar a galinha. Metáforas à parte, é preciso dizer que o terrorismo é condenável, entre outras coisas, por provocar a morte de civis, pessoas comuns. No entanto, se levarmos às últimas consequências esse critério, os EUA também enquadram-se em ações terroristas; oficias, reconhecidas, mas terroristas. Se formos observar alguns fatos históricos do século XX que envolvem os yanques não há nada que justifique sua pose de defensores da democracia e dos direitos humanos. Vejamos.
Na primeira metade do século passado, o trágico episódio de Hiroshima e Nagasaki, destruídas pelas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos da América. Duas cidades inteiras dizimadas com suas populações....milhares de inocentes, sem nenhuma possibilidade de defesa. Na segunda metade do mesmo século o governo estadunodense destaca-se por financiar as ditaduras latinoamericanas, que marcaram de sangue as terras do sul. Os torturadores dos regimes militares espalhados pela América Latina recebiam treinamento de oficiais estadunidenses. Assim que, direta ou indiretamente, os EUA têm culpa na morte de cada um e cada uma que foi perseguido, preso torturado e morto pelas ditaduras. E mais recentemente, no início deste século, vimos as atrocidades cometidas pelos soldados estadunidenses no Afeganistão e no Iraque. Me vem à mente a imagem daqueles civis mortos no Iraque com rajadas de tiros disparadas de um helicóptero de guerra. Pessoas desarmadas, repórteres, crianças... Tudo em nome da democracia? Balela!
Obama apressou-se em dizer que agora, com a morte de Osama Bin Laden, o mundo é "um lugar melhor e mais seguro" e que se fez justiça. Mas que tipo de justiça foi feita? Obama rogou para si o papel de imperador, nos moldes da Roma Antiga, ou seja, aquele que decide sobre a vida e sobre a morte.

Curioso é que apenas por ter sido eleito, Barack Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz (????). E por que recebeu-o? Por promessas não cumpridas como, por exemplo, desativar a prisão de Guantánamo em Cuba? Retirar as tropas do Afeganistão e do Iraque? E agora ainda menor é a possibilidade disso. Quando declara, junto com outras potências do mundo, que Bin Laden era apenas uma peça (e o fazem acertadamente) e que o terrorismo ainda precisa ser combatido (outra tese acertada), pode-se  traduzir: a "guerra ao terror" (ou a busca do controle do petróleo no Oriente Médio, como preferirem) não vai acabar tão cedo (tese no mínimo controversa). Mas isso não é, de verdade, um problema para os EUA, pois ao mesmo tempo que se discute o alto gasto bélico com defesa no pais, movimenta-se um dos grandes mercados estadunidenses: a indústria bélica e armamentista. Assim, que apesar de todo seu discurso pseudo-democrático, os EUA ainda se pautam pela lei do mais forte, que diga-se de passagem, não é a mais coerente, nem a mais justa, mas a menos humana e racional das leis. Todo terrorismo é condenável, inclusive o institucionalizado.