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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Por uma consciência histórica do presente!!!


Quando se fala em consciência histórica desavisadamente nos remetemos ao passado, e por isso queremos propor que se faz necessário recuperar uma consciência histórica também do presente. Essa segunda década do século XXI está marcada por uma série de eventos que demonstram um evidente movimento de mudança, ou, no mínimo, de instabilidade e contestação. Longe de ser nociva essa instabilidade evidencia o caráter dinâmico e incontrolável da história, que pode, acreditamos, ser considerada como um constante devir. Acontecimentos como a chamada Primavera Árabe - com seus paradoxos -, o surgimento dos Indignados (sobretudo na Grécia e Espanha), o Occupy Wall Street – que se espalhou por todos os EUA – são emblemáticos no sentido de demonstrar que há uma mobilização popular importante acontecendo, e que apesar de algumas especificidades, há uma demanda comum de fundo, que é o descontentamento com o modelo atual de sociedade, de política, de economia. Nos casos europeus e estadunidense o descontentamento é com o sistema neoliberal que, como já apontamos em outra postagem, tem provocado inúmeros problemas sociais, uma vez que o Estado não garante os bens e serviços públicos, mas o funcionamento e a manutenção do mercado financeiro. No caso árabe o descontentamento é com os regimes autoritários e com a pouca democracia que, supostamente, há naqueles países. Acontece que nesse caso árabe temos de apontar um paradoxo. A ingerência de países ocidentais nas questões nacionais do Egito, Tunísia, Síria, Líbia, entre outros países do norte africano e do Oriente Médio, tem procurado estabelecer o padrão político-econômico e social do que pensam ser democracia, mas deturpando o conceito e as práticas democráticas, igualando-os à noção de livre-mercado, o que de fato é um equívoco e uma instrumentalização da democracia a fim de garantir interesses das nações ricas.

Além disso, o chamado Norte do mundo está atravessando um período de agudização da crise econômica e que vem se desdobrando em crises sociais sistêmicas, mais graves que as dos países em desenvolvimento. Definitivamente a chamada Nova Ordem Mundial, que há muito já era prognosticada como desordem, vem colapsando nos últimos anos e esse colapso é de todo um sistema, de um modelo de sociedade burguês e capitalista. Nesse sentido alguns grupos de mídia que representam esses mesmos ideais e a classe dominante nos países do sul, valendo-nos do exemplo brasileiro, promovem certa banalização desses fatos, que são históricos e relevantes, mesmo ocultando ou tergiversando os conflitos – e suas causas - que se dão nas nações ditas “desenvolvidas”. Isso deve-se ao fato de que aquelas nações são suas referências para uma sociedade que funciona, paradigmática; portanto, seria ruim para seus interesses demonstrar que esse modelo de sociedade não funciona tão bem quanto pretendem fazer crer. Assim, as notícias que nos chegam pela maioria dos meios de mídia, salvo raras exceções, trazem informações superficiais que não transmitem as reais dimensões dos fatos atuais, procurando disseminar um discurso de estabilidade, que na realidade não existe; mas faz isso não negando os conflitos, mas minimizando-os de modo a sustentar, ainda e apesar de todas as evidências contrárias, a superioridade e a “bondade em si” de sua sociedade ideal, ocultando, inclusive, os movimentos políticos de integração como os que vêm acontecendo na América Latina, e especificamente na do Sul, por não coadunar com esse modelo, embora seja o nosso e seu mesmo contexto. Some-se a isso o fato de que a ideologia dominante instalou, exitosamente, a cultura da superficialidade e da efemeridade, o que significa que as pessoas podem receber muitas informações, mas poucas se dão ao trabalho de transformá-las em conhecimento, ou seja, descer mais a fundo nas informações que recebem, criticando-as. É isso que torna compreensível, até certo ponto, o fato de o mundo inteiro ter se comovido com a morte do magnata da Apple, mas manter-se indiferente e mesmo contrário, às diversas manifestações populares que eclodem pelo mundo, e isso talvez seja um exemplo claro do que significa ignorar nosso momento histórico, que seguramente estará logo nos livros de História, mas que não pode deixar de estar inscrito nos livros das nossas consciências hoje.

2 comentários:

  1. Realmente a forma de como a mídia manipula as informações ignorando o momento histórico pelo qual estamos passando é difícil de engolir. O que sempre é preciso ter em mente que os meios de comunicação em massa desejam fazer com os conflitos sociais, políticos e culturais no Oriente Médio o mesmo que fez com Hugo Chávez na Venezuela, acusando um líder escolhido DEMOCRATICAMENTE de DITADOR e apoiando massivamente um ditador de fato. Deturpando ridiculamente os acontecimentos de Caracas, quando o povo aclamava o retorno do presidente eleito e deposto por um golpe. Onde se passou por cima do direito dos cidadãos de votar e serem governados pelo líder escolhido por eles democraticamente. O apelo que se faz é: não deixemos acontecer com a informação veiculada pela mídia sobre o Oriente Médio o que tentaram fazer com Hugo Chávez e com a Venezuela. Deixemos um pouco de olhar a cultura do "outro" com os mesmos olhos que olhamos a nossa.

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  2. Tenho a impressão de que se o brasileiro não assistisse televisão e usasse outros meios para obter informação as coisas estariam um pouco melhores. Uma coisa é certa! A mídia sempre consegue atrapalhar qualquer tipo de manifestação positiva a respeito da sociedade. Tenha a tendencia de pensar que quando as mídias alternativas se popularizarem ainda mais, as mobilizações possam ocorrer com mais força.

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