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domingo, 26 de junho de 2011

Educação na grande mídia: um projeto privado para a educação pública!!

Durante uma semana do mês de maio deste ano o Jornal Nacional exibiu uma série de reportagens sobre a educação brasileira. Visitando cidades de todas as regiões do Brasil procuraram apontar, de seu ponto de vista e, portanto, desde sua ideologia, os caminhos para uma educação que dá certo. Essa série desperta a reflexão sobre o modelo educacional pensado para o Brasil pelas elites, representadas aqui pela Rede Globo. Inadvertidamente qualquer um que compre as idéias e a ideologia veiculada pelo noticiário entenderia que a escola que dá certo é realmente aquela apresentada e desenhada na série a que nos referimos, no entanto, há que olhar bem mais a fundo para perceber a perniciosa proposta que se esconde. De início, queremos destacar que o grande colaborador dessa empreitada foi o especialista em educação, Gustavo Ioschpe, cuja preocupação primeira é a economia, já que é economista e só depois especialista em educação, além de ser articulista da revista Veja, que tem interesses e vieses políticos e de classe claríssimos, à direita. Assim, que as experiências consideradas “bem sucedidas” em educação foram apontadas como aquelas em que a gestão se realiza nos moldes do mercado, ou seja, de modo empresarial, lidando com números e índices, metas, como às que se aplicam à produção de qualquer outro bem. Para melhorar a estrutura escolar e na diversificação de recursos pedagógicos, apontou, com o exemplo de uma escola em particular, a parceria entre escola e empresas, citando as ações da Fundação Roberto Marinho e os materiais do Telecurso. Consideremos ainda que no encerramento da matéria, quem dá a última palavra é um empresário. Pois bem, que há de pernicioso em tudo isso? Vejamos.
Defender parcerias com a iniciativa privada na educação é algo altamente questionável, primeiro, porque a responsabilidade de manutenção dos prédios públicos, onde se compreendem as escolas, é do poder público. Isso abriria um precedente preocupante ao enxergar na educação um campo de investimento numa espécie de PPP (Parceria Público-Privada) que, apesar de alguns matizes, pode ser considerada como certo grau de privatização, e sendo a educação um setor estratégico para o desenvolvimento do país é um equívoco apontar essas parcerias como modelo. Fato é que a parceria com a comunidade local é muito mais indicada e educativa que a parceria com empresas privadas. Nesse contexto a gestão escolar perde sua especificidade e torna-se correlata à administração de empresas. Essa inversão torna o que é próprio do mundo escolar, a educação, o conhecimento – acadêmico ou não – algo como qualquer outro produto, cuja produção pode ser prevista, indicada e medida de acordo com as metas de produtividade. Ora, a educação não é sequer similar a outros bens produzidos e quantificáveis, e exatamente por isso tem-se discutido sobre os critérios de avaliação que compõem índices oficiais como o IDEB – a nível federal – e o IDESP – do Estado de São Paulo. Gerir a educação como se administra uma empresa é um erro, porque a natureza dos bens é bastante distinta na escola e na empresa. Essas “tendências” educacionais exploradas pelos meios de comunicação dominantes, e mais detidamente no caso que abordamos, da Rede Globo, com o apoio de um articulista da revista Veja, demonstram, mais profundamente, além do que aparentam, os anseios da elite brasileira no que diz respeito à educação pública, que deve passar, fundamentalmente, pela qualificação da mão-de-obra, e não pela formação integral e consistente daquele que está estudando. Há uma forte oposição destes setores da sociedade à formação da pessoa, do cidadão consciente e crítico, ao passo que suas abordagens educacionais sempre tendem à valorização, apenas, da formação do profissional qualificado, que, em outras palavras, significa aquele que vai produzir mais. Daí pode-se compreender porque cada vez mais economistas tem se dedicado a falar sobre educação, como é o caso do colaborador da supracitada série do Jornal Nacional, que, como dissemos, é articulista da revista Veja, que deixou muito claro seu repúdio por uma educação que seja capaz de dar criticidade aos alunos das redes públicas, uma vez que em sua edição Nº2158, de 31 de Março de 2010, faz uma preconceituosa e pobre crítica ao ensino de Filosofia e Sociologia nas escolas públicas, a ponto de dizer que essas disciplinas apenas servem para disseminar ideologias com “conceitos rasos e tom panfletário”. Ora, tratar fabril e economicamente a educação, como um meio para a manutenção do status quo da classe que defendem a Veja e a Globo, não é, igualmente, ideológico? Aceitar e divulgar receitas de economistas e empresários para a educação tem uma finalidade que, em síntese, não é a contribuição para a efetiva melhoria da qualidade da educação pública, mas a disseminação de um modelo educacional que atenda não aos interesses da Nação, mas a interesses privados.

Seguem links das reportagens do Jornal Nacional:

E da revista Veja: http://veja.abril.com.br/310310/ideologia-cartilha-p-116.shtml

domingo, 19 de junho de 2011

Influências e ingenuidade (e/ou ignorância) política!

Um grupo de amigos faz surgir, repentinamente, uma conversação sobre política. O arranque da discussão se deu pelas denúncias contra o então Ministro Chefe da Casa Civil, Antônio Palocci. Enquanto uns afirmavam certamente que o ex-ministro era culpado, outros, embora admitissem a possibilidade de sua culpa, não desconsideravam que haveria interesses em sua derrubada, e ainda mais, a origem das denúncias e os meios que a transmitiam. Aparece a idéia de que os que admitiam ao menos a possibilidade de Palocci não ser culpado fossem demasiado ingênuos.  Daí a questão evolui para um âmbito mais macro. Trata-se a questão do Iraque, melhor dizendo, da invasão estadunidense ao Iraque. Uns dizem haver sido um bem, porque, afinal de contas, Saddam Hussein era um ditador. Sequer lembra-se que o pretexto da invasão – a produção de armas de destruição em massa – foi vergonhosamente desmentido, e que fica evidente que o motivo real é a pretensão de controlar territórios ricos em petróleo. Depois o “locus” da conversa volta-se para a América Latina, mais especificamente para uma crítica dos governos da Bolívia, com Evo Morales, e da Venezuela, com Hugo Chávez. Uma manifestação que demonstre uma preferência a Chávez, antes que a Obama, provoca uma surpresa por destoar dos discursos mais comumente divulgados. Logo surgem “argumentos” de que a Venezuela é problemática, que tem um IDH baixo por conta das políticas chavistas. Conferindo os dados oficiais do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) é possível constatar que o IDH venezuelano é considerado alto e está a apenas duas posições abaixo do Brasil no ranking de classificação de países. Isso nos faz pensar que há uma grave ingenuidade política e uma suscetibilidade muito grande, e acrítica, ao que vem sendo veiculado nos meios de comunicação, que se arrogam a verdade da informação, mas que a tergiversam e confundem até quem deveria possuir certo grau de esclarecimento e pensamento crítico, que a tomam como verdade, o que de fato não o é.
É evidente que há um descontentamento dos meios de comunicação dominantes, propriedades das elites, com a guinada “à esquerda” na América Latina, e tentam inculcar a ideia de que é algo que só pode dar errado, o que os dados do PNUD contrariam e desmentem, pois a Argentina, governada por Cristina Kirchner, a Venezuela, por Hugo Chávez, o Equador, por Rafael Correa, além do Brasil (ainda com Lula), possuem um IDH considerado alto e a Bolívia, de Evo Morales, possui um IDH médio. Assim, que esse criticismo infundado e infértil merece uma discussão e uma análise mais atenta, que procuraremos abordar uma próxima vez, mas que tem prejudicado imensamente a visão do que está ocorrendo no momento histórico atual da América Latina.

Segue link da página oficial do PNUD com a classificação dos países:

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Liberdade de imprensa...


A Associação Nacional de Jornais (ANJ) outorgou ao jornal argentino Clarín um prêmio por Liberdade de Imprensa, defendendo a tese de que o diário e a imprensa argentina enfrentam um desafio, perante o governo kirchnerista, de fazer um jornalismo independente, de qualidade e não submisso a governos. No entanto, há que compreender o que essa “premiação” significa, por mais que não se tenha tomado conhecimento dele.
A ANJ é uma associação de empresários do ramo jornalístico, e não tem a ver, diretamente, com a atividade jornalística, mas com decisões e normas corporativas, que tem em vista os interesses econômicos dos grupos associados. Assim, que, embora não sendo membro da ANJ, por ser estrangeiro, o grupo Clarín está ligado aos meios de comunicação hegemônicos do Brasil, e de toda a América por meio da SIP (Sociedad Interamericana de Prensa), onde congregam-se os grandes grupos empresariais de imprensa escrita. Nesse contexto, a premiação é uma premiação entre pares, que comungam dos mesmos interesses, o mercado da informação, o que tem visto nas medidas de democratização da informação propostas pelo governo federal argentino, sobretudo na Lei de Meios, uma “ameaça à democracia e à liberdade de imprensa”. No entanto, o que evidentemente se pode perceber é um conflito de interesses, uma vez que as medidas dos governos de Nestor e Cristina Kirchner têm apontado para um projeto mais popular de sociedade e um desligamento da velha tutela e lobby das grandes corporações. Porém, vamos nos deter em um ponto específico. O diretor-presidente de Clarín, Hector Magnetto, quando do recebimento do prêmio, afirmou em discurso que “na Argentina, hoje, importam as conexões e influências políticas e jurídicas, “mas a história me ensinou que para fazer democracia é necessário ter justiça independente e imprensa livre, e esse prêmio de hoje tem a ver com esse requisito básico: a liberdade”. Acontece que esse prêmio não ilustra qualquer real preocupação real com a democracia, uma vez que o passado do diário argentino, assim como de alguns brasileiros, está manchado por uma conivência e mesmo uma prestação de serviços às ditaduras. Quando Magnetto diz que é necessário uma “justiça independente”, por exemplo, não leva em considerção a causa que vem-se discutindo há 10 anos, sobre a apropriação indevida de bebês pela dona do grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble.

A Associação das Abuelas de Plaza de Mayo crê que os filhos adotivos dessa senhora podem ser filhos de desaparecidos políticos e que urge saber sua verdadeira identidade e que ao longo de dez anos a justiça tem concedido privilégios a Herrera de Noble. Assim, que a justiça independente defendida por Hector Magnetto, não tem sido tão independente quando se trata dos meios corporativos, da independência ao poder econômico e mesmo político de grandes empresas. Porém, nenhum comentário acerca desse fato foi feito pela ANJ que, ao premiar o Clarín por “liberdade de imprensa”, ignorou suas influências e sua obstrução da Justiça, uma vez que os empresários proprietários do jornal dificultaram, até agora, o fornecimento de amostras de material genético de Marcela e Felipe Noble Herrera. A última evidente “influência estranha” nesse processo foi a ordem judicial para extração consentida ou compulsiva de DNA, mas limitando a comparação com os dados constantes do banco genético nacional, onde estão informações genéticas capazes de estabelecer relações de parentesco, até uma certa data, e não a todo o banco, numa manobra evidente e preocupante.  Programas de crítica de mídia, como o 6-7-8, da Tv Pública Argentina, demonstram largamente as contradições que se desenrolam em torno da causa Herrera de Noble, que soma já dez anos de impunidade e que passou despercebido à ANJ ao premiar  o diário Clarín. Melhor dizendo, não despercebido, mas simplesmente ignorado por conveniências óbvias. Assim, que o prêmio pareceria mais bem nomeado se ao invés de ser pela “liberdade de impresa” fosse por uma impresa liberal.