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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Liberdade de imprensa...


A Associação Nacional de Jornais (ANJ) outorgou ao jornal argentino Clarín um prêmio por Liberdade de Imprensa, defendendo a tese de que o diário e a imprensa argentina enfrentam um desafio, perante o governo kirchnerista, de fazer um jornalismo independente, de qualidade e não submisso a governos. No entanto, há que compreender o que essa “premiação” significa, por mais que não se tenha tomado conhecimento dele.
A ANJ é uma associação de empresários do ramo jornalístico, e não tem a ver, diretamente, com a atividade jornalística, mas com decisões e normas corporativas, que tem em vista os interesses econômicos dos grupos associados. Assim, que, embora não sendo membro da ANJ, por ser estrangeiro, o grupo Clarín está ligado aos meios de comunicação hegemônicos do Brasil, e de toda a América por meio da SIP (Sociedad Interamericana de Prensa), onde congregam-se os grandes grupos empresariais de imprensa escrita. Nesse contexto, a premiação é uma premiação entre pares, que comungam dos mesmos interesses, o mercado da informação, o que tem visto nas medidas de democratização da informação propostas pelo governo federal argentino, sobretudo na Lei de Meios, uma “ameaça à democracia e à liberdade de imprensa”. No entanto, o que evidentemente se pode perceber é um conflito de interesses, uma vez que as medidas dos governos de Nestor e Cristina Kirchner têm apontado para um projeto mais popular de sociedade e um desligamento da velha tutela e lobby das grandes corporações. Porém, vamos nos deter em um ponto específico. O diretor-presidente de Clarín, Hector Magnetto, quando do recebimento do prêmio, afirmou em discurso que “na Argentina, hoje, importam as conexões e influências políticas e jurídicas, “mas a história me ensinou que para fazer democracia é necessário ter justiça independente e imprensa livre, e esse prêmio de hoje tem a ver com esse requisito básico: a liberdade”. Acontece que esse prêmio não ilustra qualquer real preocupação real com a democracia, uma vez que o passado do diário argentino, assim como de alguns brasileiros, está manchado por uma conivência e mesmo uma prestação de serviços às ditaduras. Quando Magnetto diz que é necessário uma “justiça independente”, por exemplo, não leva em considerção a causa que vem-se discutindo há 10 anos, sobre a apropriação indevida de bebês pela dona do grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble.

A Associação das Abuelas de Plaza de Mayo crê que os filhos adotivos dessa senhora podem ser filhos de desaparecidos políticos e que urge saber sua verdadeira identidade e que ao longo de dez anos a justiça tem concedido privilégios a Herrera de Noble. Assim, que a justiça independente defendida por Hector Magnetto, não tem sido tão independente quando se trata dos meios corporativos, da independência ao poder econômico e mesmo político de grandes empresas. Porém, nenhum comentário acerca desse fato foi feito pela ANJ que, ao premiar o Clarín por “liberdade de imprensa”, ignorou suas influências e sua obstrução da Justiça, uma vez que os empresários proprietários do jornal dificultaram, até agora, o fornecimento de amostras de material genético de Marcela e Felipe Noble Herrera. A última evidente “influência estranha” nesse processo foi a ordem judicial para extração consentida ou compulsiva de DNA, mas limitando a comparação com os dados constantes do banco genético nacional, onde estão informações genéticas capazes de estabelecer relações de parentesco, até uma certa data, e não a todo o banco, numa manobra evidente e preocupante.  Programas de crítica de mídia, como o 6-7-8, da Tv Pública Argentina, demonstram largamente as contradições que se desenrolam em torno da causa Herrera de Noble, que soma já dez anos de impunidade e que passou despercebido à ANJ ao premiar  o diário Clarín. Melhor dizendo, não despercebido, mas simplesmente ignorado por conveniências óbvias. Assim, que o prêmio pareceria mais bem nomeado se ao invés de ser pela “liberdade de impresa” fosse por uma impresa liberal.

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