Acessos

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Os donos do mundo e a crise capitalista!!

Parece-nos que o momento atual de crise econômica não pode ser compreendido como um evento distinto daquele ocorrido em 2008. Esse período inicial de crise, comparado à grande depressão de 1929, foi, talvez, rasamente analisado, de modo que as medidas adotadas para solucioná-la basearam-se na própria causa do problema: o neoliberalismo. Alguns noticiários e especialistas chegaram a levantar, como questão, se o neoliberalismo não estava chegando ao fim, num momento de declínio.  O fato é que verificou-se, pelo contrário, um aprofundamento dessa doutrina, dessa ideologia, que não mais defendia apenas o Estado mínimo, mas o socorro do setor privado pelo Estado, numa lógica sem qualquer fundamento, uma vez que consiste em que o setor privado acumula prejuízos que deveriam ser reparados pelo Estado. Acontece que tentar resolver a crise do capitalismo, em seu estágio neoliberal, com mais neoliberalismo não resultou, obviamente, na solução, mas num ligeiro adiamento do agravamento da crise, a que estamos assistindo nos últimos dias, o que tem assolado vários países, sobretudo no chamado mundo desenvolvido, destacadamente na União Européia e nos Estados Unidos.
O que soa absurdo é que a estabilidade ou instabilidade mundial passam a depender única e exclusivamente do que digam os “gurus” da economia global, as agências de avaliação internacionais, que têm o poder de definir os rumos da economia dos países que, em nome do mercado, aderem às políticas econômicas de ajuste, com a finalidade de tranqüilizar investidores, donos do capital. Em outras palavras, as ações dos governos passam a ter em conta não os interesses nacionais, mas as orientações de instituições que representam interesses privados. Assim, essas instituições e agências de avaliação, que são nada mais que oligopólios empresariais, fazem sua análise, particular e de acordo com seus interesses, de risco dos países não conseguirem pagar suas dívidas, e emitem uma avaliação que pode alvoroçar todo o mundo. Segundo a Folha de São Paulo (Segunda-Feira, 08 de Agosto de 2011, Caderno Mundo, pg. A10) esses oligopólios representam 95% do mercado global. Há uma preocupação desses grupos, representados pelas agências Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch’s, não com um prejuízo real, mas com a possibilidade de diminuição dos seus lucros, o que as faz rebaixar a nota de confiabilidade em determinado país. Fica evidente que os governos se veem num conflito que, de fato, exige uma firme tomada de posição, pois que verifica-se uma oposição radical entre os interesses das oligarquias e os interesses dos povos, das Nações. O capitalismo, sobretudo em sua forma neoliberal, estabeleceu um divórcio litigioso entre a Economia e a Política Pública e Social, pois com a primazia da economia, e em seu benefício, devem-se reduzir os “gastos” públicos. Por isso a crise só é crise quando abala a economia. Falta de segurança pública, precariedade da saúde, educação precária e cara nunca são vistos como crise, porque não afetam a economia capitalista, mas a favorecem. Entende-se, dessa forma, por que os protestos dos estudantes chilenos por uma educação pública, de qualidade, gratuita – que se arrastam há meses - são vistos apenas como protestos, e não como crise sistêmica da educação.
A economia é algo que deve ser repensado, rediscutido. Não é fato de menor importância que os presidentes dos países que compõem a UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), na última reunião da organização, em Lima, no Peru, logo após a posse de Ollanta Humala, defenderam a adoção de medidas alternativas e conjuntas para a região, que não sejam aquelas propostas pelos órgãos internacionais que tem interesses corporativos escusos. Nesse sentido, vale recordar o Ministro da Economia argentino, Amado Boudou, que tendo sido, outrora, partidário das idéias da economia liberal, reconstruiu sua concepção de economia ao constatar que a economia isoladamente não corresponde à realidade, pois é na realidade que estão as pessoas reais, algo que as teorias econômicas liberais e neoliberais não têm conta. Há, segundo Boudou, que reaproximar a economia da política. Cremos que dessa forma o crescimento econômico signifique, também, melhores condições de vida para os povos, e não para um pequeníssimo grupo de pessoas. Etimologicamente economia (oikós nomós) significa as regras da casa, ou melhor, o cuidado da casa; cuidar da casa compreende cuidar das pessoas que estão nela. Portanto devemos caminhar para um modelo econômico que redescubra essa dimensão, e adotar medidas que, mesmo consideradas heterodoxas pelos donos do poder econômico mundial, e talvez por isso mesmo, apontem um caminho bastante acertado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário