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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Bandidos ou mocinhos: pra quem vão as homenagens?


Algo curioso que ocorre no Brasil diz respeito às homenagens póstumas que prestam a algumas personalidades. Vejamos. Ao sair pelas grandes cidades nos deparamos com alguns monumentos, ruas, avenidas, rodovias, que ostentam nomes que têm uma relevância histórica; normamlmente o senso comum associa tal honra ao heroísmo. No entanto essas honrarias são absolutamente questionáveis. A rodovia Castelo Branco, por exemplo,  presta uma homenagem a ninguém menos que o primeiro presidente militar posto no cargo pelo Golpe de 1964 (que os militares e os direitistas de plantão insistem em chamar de "revolução"). Ora, sabe-se o que a ditadura militar produziu no país e, no entanto, não se cogita mudar o nome da rodovia, afinal Castelo Branco teria sido um "herói revolucionário". Boa parte dos paulistas que desejam descer ao litoral deve passar pela Avenida dos Bandeirantes, também esses heróis da colonização portguesa do Brasil. Esquecem-se, porém, que eles foram os primeiros desmatadores, genocidas, escravocratas que infestaram de doenças e morte a nossa terra e saquearam, como bárbaros, nossas riquezas - isso para não entrar em detalhes. Dessas constatações decorre uma conclusão: há uma tendência a homenagear os que mancharam a história, e não os que a marcaram positivamente. Creio, então, que os homenageados deveriam ser não os bandeirantes, mas os indígenas e os capoeiras que lhes resistiram; seria mais coerente que a Avenida dos Bandeirantes fosse, na verdade, a Avenida dos Guaranis, dos Tupiniquins... Não há que se prestar homeagem também aos ditadores, mas, sim, aos homens e mulheres que opuseram-se bravamente contra eles. Há uma inversão de papéis, ou seja, criminosos covardes viram heróis e homens de atitudes realmente heróicas são criminalizados. Caberia, portanto, muito melhor o reconhecimento de Frei Tito de Alencar, Alexandre Vanucci, Olga Benário, Santo Dias da Silva, Margarida Alves... e tantos outros que tombaram numa luta que resultou na liberdade e na pequena democracia que vivemos hoje. Há um fato interessante na região de Osasco, na Grande São Paulo. Há uma estação da CPTM que margeia o quartel do exército em Quitaúna. Desse quartel saiu um dos maiores guerrilheiros opositores da ditadura militar: Carlos Lamarca, que desertou do exército e tornou-se membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupo armado para o qual Lamarca levou algumas armas do exército. Na linha 8 - Diamante, da CPTM, há várias estações batizadas com nomes de comandes e generais; mas já que a estação Quitaúna está ligada a um personagem histórico como Lamarca, por que não rebatizá-la com o nome do guerrilheiro? Como diz o velho ditado popular: "nem tudo que reluz é ouro", e acrescentamos: nem todos os que têm o nome numa placa são heróis.

2 comentários:

  1. De fato, os nomes de rodovias, de ruas e avenidas prestam homenagens á figuras que tiveram em nossa história o papel de matar e torturar com o propósito de manter a hegemonia de uma elite. Ao que parece, eles conseguiram alcançar seu objetivo.

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  2. Valeu pelo comentário!!! Espero que esteja curtindo o blog!!
    Abç!!

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