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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Manifestando-se, pacificamente!?


Assistindo a algumas reportagens por esses dias uma questão interessante apareceu: o medo das manifestações sociais. Recentemente um camelô atirou um saco cheio de água e gelo no prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab. Em entrevista o camelô lamentou não tê-lo acertado como gostaria e não se arrependia do que tentou fazer. Ao comentar a reportagem a jornalista disse lamentar o fato de que o homem não se arrependera e que havia outros modos de se manifestar. Outro dia ainda uma cobertura sobre a retirada de famílias de sem-teto num prédio do centro da capital e o jornalista respirava aliviado agradecendo por ser uma desocupação pacífica. Porém, esse aparente desejo de paz, a negação de qualquer conflito esconde algo maior. Por mais que alguns digam que esse é um discurso retrógado, morto, ultrapassado, não há como negar, pelo menos com honestidade, que vivemos numa sociedade elitista e que as elites se sustentam às custas da sobrevida de outros. O Brasil vem se orgulhando, nos últimos oito anos, de tirar milhões de pessoas da miséria, mas ainda é um país com um foço social enorme, a concentração de renda é uma das maiores do mundo, há uma injustiça tributária e muitos outros fatores, como a corrupção, acentuam o problema. Conscientes de que sua situação confortável tem suas bases na pobreza da maioria a minoritária elite brasileira, como todas as outras, sabe que se em algum tempo os pobres, deliberadamente construídos pelo sistema atual de sociedade, se rebelassem seu status e sua luxuosa comodidade estariam ameaçados, pois quando os alicerces de uma construção se movem a construção inteira se abala e cede. Nesse sentido sempre que há alguma manifestação um pouco mais enfática, mais agressiva, o que não significa, necessariamente, violenta, trata-se de desqualificar os manifestantes como vândalos, criminosos, perturbadores da ordem. Mas devemos nos perguntar: de que ordem? Estabelecida por quem? Para quem? O fato é que há velada, ou mesmo desveladamente, um clima de medo constante nas elites socioeconômicas que se recolhem em condomínios fechados por muros altos, cercas elétricas, carros blindados, alimentam o mercado da segurança privada para se defender de um mundo socialmente caótico construído por elas mesmas e que poderia convulsionar a qualquer momento não fosse o êxito de suas investidas de adestramento social e político das massas populares.

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