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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Religião e Política!

Um assunto sempre polêmico é aquele que diz respeito a duas questões importantes da vida humana: fé e política. Há, no senso comum, a ideia equivocada de que "religião e política não se discutem!".  Naturalmente essa afirmação é que faz com que se abra um horizonte que até então nós, brasileiros, desconhecíamos: o da intolerância. Essa intolerância se baseia em dois princípios que isoladamente já são perigosos e que somados se potencializam sobremaneira. Queremos dizer que negar discutir a religião é abrir sempre a possibilidade do fundamentalismo e do fanatismo, uma vez que negando-se o diálogo foge-se à discussão racional sobre ela; e negar discutir política é impossibilitar o amadurecimento político e cidadão, sobretudo num sistema político dito democrático, cujo fundamento é a discussão e o debate de ideias.
Os valores e a moral religiosa, em sua grande maioria pautados na concepção de direito natural tem, de certo modo, um caráter personalista e algumas vezes se confronta com o direito positivo, característico do mundo político e que leva em consideração a generalidade, além de a religião carregar a marca da transcendência e a política a da objetividade. Esse embate transpareceu com força nas nessas últimas eleições, onde alguns princípios religiosos foram tomados com radicalidade e estipulados como fiel da balança para a escolha dos candidatos. Questões polêmicas, como o aborto, - ao qual sou particularmente contrário - foram utilizadas equivocadamente e prejudicialmente simplificadas. Dava-se a entender que a eleição estava resumida a uma espécie de plebiscito onde um candidato significaria a aprovação do aborto e o outro a manutenção de sua proibição. Mas as questões eminentemente políticas acabaram perdendo peso e os programas políticos em sua globalidade acabaram por ser ignorados ao destacar-se apenas um ponto dos programas. Alguns religiosos se empenharam com tanto afinco e tão apaixonadamente na discussão de apenas um ponto dos programas políticos que sequer perceberam a miopia política que estavam desenvolvendo não só em si, mas também em um grande número de pessoas através de pronunciamentos na internet, confecção de panfletos, emissoras de tv confessionais, etc. Esse desserviço à democracia consiste não na defesa de um princípio - correto, a meu ver - de defesa da vida, mas na simplificação da questão, na sua polarização e na deformação política que esta discussão inócua produziu. A Igreja Católica, por exemplo, que até alguns dias atrás destacava-se pela contribuição coerente e relevante para a formação política de seus fiéis, atuando na proposição de leis importantes como a 9840/99 contra a corrupção eleitoral e, mais recentemente, a Lei Complementar 135/10, conhecida como Lei da Ficha Limpa, viu alguns membros de sua hierarquia e fiéis mais conservadores andarem na contramão de suas contribuições à formação política do povo brasileiro. Somou-se a isso a radicalização também das igrejas protestantes pentencostais. O fato é que pela primeira vez pudemos ver, depois do período colonial, avizinhar-se o fundamentalismo religioso, que se mostrou com uma potencialidade preocupante na jovem democracia brasileira.
Reitero que sou absolutamente contrário ao aborto, mas sou igualmente contrário à deformação política e ao fundamentalismo religioso.

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