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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eleições e cidadania plena!

Pra começar, aproveitando que o período eleitoral chegou ao fim, mas ainda está fresco, uma reflexão interessante cabe agora: e depois das eleições? Como exercer a cidadania? Há hoje um reducionismo da democracia ao ato eleitoral, mas será que é o suficiente? Para ajudar a pensar essa questão vou compartilhar um trecho de uma obra do filósofo e teólogo cristão Leonardo Boff. Segue:


Cidadania, con-cidadania, cidadania nacional e cidadania terrenal

“Entendemos por cidadania o processo histórico-social que capacita a massa humana a forjar condições de consciência, de organização e de elaboração de um projeto e de práticas no sentido de deixar de ser massa e de passar a ser povo, como sujeito histórico plasmador de seu próprio destino. O grande desafio histórico é certamente este: como fazer as massas anônimas, deserdadas e manipuláveis um povo brasileiro de cidadãos conscientes e organizados. É o propósito da cidadania como processo político-social e cultural.
Cinco são as dimensões de uma cidadania plena:
- A dimensão econômico-produtiva: a massa é mantida intencionalmente como massa e a pobreza material e política é produzida e cultivada, por isso é profundamente injusta; a cidadania política é esvaziada ou reduzida à minoridade se não vier acompanhada pela econômica; o pobre que não for contra a pobreza e não optar por outros pobres não tem condições de comportar-se como sujeito social e realizar sua emancipação.
- A dimensão político-participativa: só os interessados se fazem cidadãos; estes podem e devem contar com apoios públicos e do Estado, mas se as pessoas mesmas não lutarem em prol de sua autonomia e por sua participação social nunca serão cidadãos plenos. Portanto, mais do que o Estado é a sociedade em suas várias vertebrações que conta.
- A dimensão popular: o tipo de cidadania vigente é de corte liberal-burguês, por isso inclui somente os que têm uma inserção no sistema produtivo e exclui os demais. É uma cidadania reduzida. Não se reconhece ainda o caráter incondicional dos direitos independentemente de posse, de instrução e de condição social ou ideológica. A cidadania deve ser alargada pelos lados. Ela já é exercida nos inúmeros movimentos sociais e nas associações comunitárias onde os excluídos constroem um novo tipo de cidadania e de democracia participativa.
- A dimensão de con-cidadania: a cidadania não define apenas a posição do cidadão face ao Estado, como sujeito de direitos e não como um pedinte (não se há de pedir nada ao Estado mas reivindicar; os cidadãos devem organizar-se não para substituir o Estado mas para fazê-lo funcionar); define também o cidadão face a outro cidadão mediante a solidariedade e a cooperação, como paradigmaticamente se está mostrando na campanha contra a fome e em favor da con-cidadania e da vida, herança imorredoura de Herbert de Souza, o Betinho. Contra as políticas pobres do Estado para com os pobres, surgem as organizações dos pobres para fazerem valer seus direitos.
- A dimensão terrenal: a con-cidadania se abre hoje a uma dimensão planetária, na consciência do cuidado com a única casa comum que temos para habitar, o planeta Terra, de recursos limitados, em grande parte não-renováveis e com com a corresponsabilidade coletiva de garantir um futuro comum para a Terra e a humanidade. Não somos apenas cidadãos nacionais, mas também terrenais.”

(Extraído de BOFF, Leonardo. Depois de 500 anos: que Brasil queremos?, Vozes, Petrópolis 2000)

2 comentários:

  1. Oi, fiquei muito feliz ao saber que entrou nessa onda de ser Blogueiro, logo vai entender o por quê desse meu vicio de sempre atualizar o meu Blog "Menina Travessa"
    http://les-fly.blogspot.com

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  2. e ai companheiro

    Ficou legal seu blog

    o texto extraido do livro do Boff

    entre outros

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